Aprendendo a mostrar sem ser extremamente descritivo: O que vocĂȘ precisa saber sobre o Show, don't Tell
Se vocĂȘ Ă© um escritor que faz o dever de casa, jĂĄ deve ter se esbarrado na mĂĄxima âMostre, NĂŁo Conteâ. Se nĂŁo, eu explico. Ă uma tĂ©cnica simples que torna a leitura mais imaginativa, mais autĂȘntica, mais criativa. Pegue todas (ou quase todas â explico depois) as passagens que vocĂȘ contou algo e mostre esse contar.
EntĂŁo, se vocĂȘ contou que âO Conselheiro entrou exausto na Torre do Reiâ, mostre a cena com: âO Conselheiro parou diante do trono. Tentou respirar um pouco mais e caiu de joelhos, o corpo trĂȘmulo e as roupas encharcadas de suor.â
Se vocĂȘ contou que âMesmo doente, Melissa foi ao trabalhoâ, mostre a Melissa doente com: âCom o nariz vermelho e uma caixa cheia de lenços de papel, Melissa sentou-se e gritou para nĂłs: NĂŁo Ă© hoje que vocĂȘs vĂŁo se livrar de mim!â
O processo para um bom mostre Ă© demorado no inĂcio. A prĂĄtica acelera. Mesmo assim, recomendo nĂŁo se preocupar com ele num primeiro momento. Escreva normal os seus contes, depois vocĂȘ os altera para um mostre. Isso porque a procura de um bom mostre pode acabar te travando.
No entanto, o Show, donât Tell nĂŁo Ă© tĂŁo milagroso assim. Com ele vocĂȘ pode cair na armadilha de ser extremamente descritivo ou prejudicar o ritmo de uma cena. Tenha cuidado. EntĂŁo aqui deixo trĂȘs dicas, em forma de lista, porque a net gosta de listas:
1. Mostre o que precisa ser imaginado. Conte o que nĂŁo precisa ser imaginado
Se Alfredo vai de A a B, mostre âAlfredo atravessou os pĂąntanos escuros de Garlia, cruzou os mares revoltos da CrĂĄssia, cavalgou a longa estrada do rei e entregou a carta nas mĂŁos do Lorde de Garrenhalâ apenas se vocĂȘ quer destacar a persistĂȘncia de Alfredo. Se o mais importante Ă© a carta, basta um âAlfredo veio de muito longe para entregar a carta nas mĂŁos do Lordeâ, que Ă© um conte.
2. Uma especificidade vale mais que mil palavras
Mostrar uma caracterĂstica exclusiva de seu personagem nos faz imaginĂĄ-lo melhor, alĂ©m de ser criativo. Lembra da menina de Desventuras em SĂ©rie que amarra o cabelo toda vez que tem um plano? NĂŁo precisa dizer que ela tem um plano e qual Ă©, seu ato jĂĄ nos indica isso. Mostre-a amarrando o cabelo e executando o plano.
Em vez de se estender na descrição belĂssima e detalhada de um sol nascendo, falando da cor das nuvens, o cantar dos pĂĄssaros, vocĂȘ pode mostrar a beleza de forma simples, destacando algo especifico que resume essa beleza: âO sol apareceu sobre uma nĂ©voa cor de ouro.â (Umm⊠NĂŁo ficou tĂŁo legal assim, mas certamente Ă© mais fĂĄcil e rĂĄpido de imaginar.) Nesse caso, o foco Ă© a nĂ©voa, que pra mim reĂșne toda a beleza daquele nascer-de-sol.
3. Mostre um cenårio se ele mostrar também seu personagem
DifĂcil, mas nĂŁo impossĂvel. VocĂȘ pode mostrar as unhas sujas de terra de uma mulher em vez de nos contar que ela Ă© jardineira. Expandindo para o cenĂĄrio, mostre o seu jardim. Troque uma cena que pode ter mudança de cenĂĄrio e insira-a nesse lugar.
O Ăntimo dos personagens tambĂ©m pode ser revelado com um mostrar de cenĂĄrio. Veja:
âA luz amarela do abajur iluminava os livros de colorir da estante, as fotos coladas no espelho com adesivos da Hello Kitty, os origamis rosa pendurados no teto, a boneca de pano largada no chĂŁo ao pĂ© da cama. Mas tudo estava gelado, as paredes, os mĂłveis, os brinquedos. Todo o calor do quarto escapara pela janela aberta direto para uma noite fria e cinzenta.â
Nesse caso, o colorido dos objetos infantis do quarto é contrastado com o cinzento da noite lå fora. O quarto também estå frio, embora costumasse ser quente. O jogo de palavras nos mostra que não foi só o calor a escapar pela janela aberta, mas o causador do calor, talvez a filha do personagem. Assim, todo o cenårio é descrito para nos mostrar o que estå se passando no interior do pai.